Ainda no mandato de Luiz Henrique Mandetta, o ministério divulgava os dados de óbitos e casos confirmados às 17h no horário de Brasília. Vale lembrar que, no dia da sua saída, o ministério tinha confirmado apenas 1.924 óbitos por COVID-19. Desde então, o número subiu incríveis 2498%.
Já no mandato de Nelson Teich, que assumiu após a demissão de Luiz Henrique Mandetta em 16 de abril, o ministério da saúde começou a passar em seu portal dentro do governo o número de casos e óbitos confirmados às 19h no horário de Brasília. O número de casos e óbitos saltaram, mas não foi o motivo da saída de Teich. O motivo? Pensamento distinto do presidente da República. E neste ponto é o que assemelha Mandetta e Nelson Teich, com o contraponto de que Mandetta defendia o isolamento vertical e Teich horizontal.
O Presidente, desde do começo da pandemia, se tornou um grande inimigo do próprio governo, por incrível que pareça. Os embates sobre reabrir o comércio para reacender a economia se tornaram pauta desde do começo, apesar do número de óbitos e casos crescerem a cada dia. Os dois ex-ministros da saúde citados sempre se posicionaram contra qualquer flexibilidade do comércio, Bolsonaro era a favor. Para a prevenção do COVID-19, o presidente adotou o remédio salvador da Pátria: a hidroxicloroquina. Por se tratar de um medicamento que na época não havia eficaz nenhuma (inclusive dito pela OMS), os ministros rejeitaram que o remédio já comprado fosse repassado para o restante do país. Resultado? Ambos demitidos por divergências sobre assuntos que claramente poderiam ser discutidos, porém o mandatário maior não quis ouvir a opinião de 2 (dois) MÉDICOS, não só dos dois, mas vários se posicionaram contra o medicamento.
Por fim, chegamos ao mandato de Eduardo Pazuello. Pazuello, como dito no começo, é general do Exército Brasileiro, que assumiu interinamente o ministério após a saída de Teich. Desde da sua entrada no ministério, Pazuello juntamente com o presidente da República decidiram que, por conta da repercussão de óbitos e casos confirmados, o boletim diário que antes era divulgado prontamente às 19h no horário de Brasília, teria de ser passado (e foi) para às 22h no horário de Brasília. Segundo o ministério na oportunidade, o horário foi modificado para que possa ter uma transparência de dados concretos ao final do dia para a divulgação e repercussão dentro da mídia no país. Se formos ver por este lado, é "até" uma justificativa plausível, se não fosse divulgado o real motivo.
Em mais uma entrevista e sem máscara, Bolsonaro respondeu a uma pergunta de um jornalista da CNN Brasil sobre a modificação no horário do boletim. O presidente em responde justifica que a mudança, foi pelo simples motivo da grande repercussão que ocorre no horário do noticiário do Jornal Nacional, da TV Globo - segundo o IBOPE, a audiência em SP atinge diariamente 30, 31 pontos no horário do JN -, o mesmo utilizou da seguinte frase na resposta: "acabou a matéria no JN (Jornal Nacional)" chamando-o veículo de imprensa de "TV Funerária, que só exibe mortes". Após o comentário do presidente da República, a TV Globo repudiou a fala do mandatário.
Ao passar os boletins para o horário das 22h no horário de Brasília, ocorreu vários relatos nas redes sociais de que o ministério da saúde, dirigido por Pazuello estaria manipulando dados. Fato curioso é que, no dia 07 de junho, o ministério divulgou que dentro do período de 24h (vinte e quatro) obteve o registro de óbitos juntamente com as secretárias estaduais de saúde de cada estado o número de 1.382 óbitos. Após algumas horas, o ministério divulgou um novo número, corrigindo de 1.382 para 525 mortes. Grande parte da imprensa e deputados, incluindo o Presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia questionaram o ministério, que em nota respondeu que a plataforma estaria passando por ajustes na maneira de transmitir o número de casos.
Desde então, a pasta da saúde é ocupada interinamente há 1 mês e 7 dias por Pazuello. Antes, com Mandetta, o ministério realizava coletivas de imprensa de forma diária informando dados sobre o COVID-19 para os veículos de informação, tentando levar os dados com maior transparência possível a população. No atual mandato do ministro da saúde, o ministério sequer realizou uma coletiva informando sobre formas de prevenção e soluções sobre o vírus. O ministério utiliza apenas de mídias sociais para transmitir o trabalho feito. Levando em conta que, apesar de um período de pandemia, nem toda a população obtém acesso a internet. Volto a repetir: o silêncio do ministério da saúde, não só referente aos óbitos, mas em um contexto geral é algo ensurdecedor para a população.
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